18 de novembro de 2006

silêncio das conversas II

...por um minuto estagnei em frente cheirando aquele aroma amargo
que cheiro tão agradável que não sentia há muito tempo
à mistura com o cheiro a café que fazia aguar a boca
perco-me com esta simples paixão
uma gulodice que permanece escondida em mim e
só se exprime de quando em vez
com a velocidade de uma foto instantânea
cheirava a manhã sossegada ouvindo o silêncio das conversas
decidi entrar e esquecer o trabalho por um segundo
já encomendei o meu pedaço de pecado quando
vasculho a memória em busca do último encontro com esta satisfação
as mesas de madeira ruiva
as janelas de estilo inglês
os madrugadores como eu de pequenas chaleiras na frente
o som da batida para sacudir o café
o barulho da máquina a parir cimbalinos
os jornais passados no cesto de verga no canto do salão
o senhor de blaser castanho de cachimbo nos lábios
tornava o ar uma valsa entre o fumo do tabaco e o vapor da sua chávena
mais uma volta na colher para cruzar bem o adoçante
e mais um travo no vício
tudo em volta me faz serenar
escuto várias vozes diferentes
escuto muito múrmurio
mas não percebo qualquer conversa
é como se todo o barulho junto se tornasse inaudível
se tornasse no silêncio total
oh como eu amo o silêncio
a paz das manhãs
quando todo o mundo ainda está a dormitar
acalma-me o espírito
já lá vai o tempo em que passava o nascer do dia lendo neste café
matei saudades, reencontrei lembranças
disfrutei deste deleitoso veneno
estou vivo, sinto-o
chega de viagens, o relógio não perdoa
estou atrasado,
vou-me tramar!