22 de junho de 2006

unreal passion

No cimo, bem alto, dos prédios, procuro o silêncio da noite no frio da brisa que insiste em marcar presença por entre os vapores que os edifícios respiram e os excrementos que os meus companheiros nocturnos insistem em, o chão, tatuar. Vou marcando o chão com o ritmo do meu passo, vagaroso, penoso, compassado, como se me arrependesse de ter assassinado alguém, como se estar vivo fosse o pior castigo de todas as torturas orientais terríveis. Porque alguém escolheria levar o ar aos pulmões nestas circunstâncias?
Por favor? Por destino? Por missão? Por amor?
Não! Vampiro algum terá de prestar favores a quem quer que seja. Não acredito em destino e a minha única missão é procurar perceber a minha razão de existir. Por amor?
Poderá um monstro como eu ter sentimentos, compaixão, auto-estima, medo, dor, ou mesmo amor?
Será razão suficiente e necessária para assim viver? Por amor?
Talvez fosse, se ao menos não me tivesse ido apaixonar pela pessoa errada. Milhões de milhões de pessoas, entre raças, etnias, pessoas doentes ou saudáveis, ricas ou pobres, brutas ou delicadas, tinha de me apaixonar por ti! Logo por ti, humana, simples mortal!
Viver num mundo paralelo ao teu, é como respirares e eu não, como seres azeite e eu água, seres o branco e eu o preto. Pior que estares viva e eu morto é estares viva e eu ter medo de te querer imortalizar. Somos o dia e a noite, só nos encontramos por descuido da natureza. Só poderia ser feliz se pudesse, eu, ser verdade! A única forma de te ter é libertar o meu coração numa noite de lua cheia e esperar que a angústia e a paciência apertem as mãos, para sempre te imaginar...