30 de junho de 2006

velha aldeia, minha parideira


saudades de casa só se matam com um beijo do cheiro do hábito
do costume ao que é nosso, ao que connosco nasceu e cresceu
o cheiro das flores que desde sempre rosaram o jardim
esse nunca me esquecerei, é como um suor que cola na pele
a calçada que rodeia a casa e lembra os lanhos nos joelhos
das grandes tardes de bicicleta
que ouviam berros tardios de hora de jantar
o suco quente das framboesas sensíveis ao toque
que esmagava com as mãos enquanto as roubava
aqueles sorrisos inocentes de jovem de aldeia
negros e cheios de tinta de fruta
as flores silvestres de cor púrpura colhidas da floresta
cujos caules sabiam mais doces que o mel da avó
os beijos inocentes roubados no meio dos milheirais
os longos saltos ao ar na tentativa de ver a torre da capela
onde os sinos celebravam cada hora sem medo do passar do tempo
as viagens aéreas dos aromas de almoços apressados
da vida de agricultores, lenhadores e metalúrgicos
que fugiam entre as covas dos caminhos de pó e terra
em conjuntos de velhos casais de lambretas
o saudável contacto com a terra no verão
e com a lama na época dos céus sentidos
as unhas pretas e os calos dos punhos
são lembranças agarradas ao fundo da alma
momentos que só se esquecem com a mesma terra que brinquei
por cima de todo o meu corpo
sítio de bom vinho e bons costumes este onde nasci
pequeno lugar de cantos pouco sombrios
velha aldeia que jogava às escondidas com a pobreza e a inveja
mas este jogo só acaba com a descoberta
e desta vez não houve fuga à norma