4 de maio de 2006

horrendo ferido


venho de um sítio sem lugar e sem nome
onde as horas não parem minutos nem segundos
os sonhos nascem para sempre viverem com fome
somente os doidos aqui se tornam em defuntos

nas ruas corre o cheiro a dor e a ódio
mal lavadas, da sorte podre que as caminha
escorridas pelas escamas de tanto vómito
pedras lustras que outrora a calçada continha

quem escolheu que aqui nascesse e crescesse
neste antro de buracos feitos por coiveiros
não verá nunca sequer o desprezo que merece
em lugar tão cheio de putas e de paneleiros

nascido, crescido, vivido! em animal me vim tornar
sem culpas mas remorsos da vida que me saiu
serei sempre destemido mas aqui não hei-de voltar
quando as mãos tocarem a desgraçada que me pariu

que o Senhor me perdoe por minha errada doutrina
mas foi a catequese que a vida me ensinou
a terra trará paz e silêncio, só ela a confina
deixar-me galga-la fará mentira daquilo que sou