1 de setembro de 2006

A fome mata!


estou completamente bêbedo, estou tão zonzo, todo fodido
e é tão cedo ainda mas só assim consigo lidar com esta pressão
estou exausto e nada ajuda, nada corre bem, nada é positivo
tudo o que me envolve é penoso, pesado demais
quando haverá um ponto final?
só assim consigo esquecer o que vi, com estes negros olhos
tanto menino e menina pálidos como a cor dos ossos
que lhes sobressaíam em todas as partes que controem o corpo
as vítimas são tantas que parece termos sido engolidos
pela brutalidade de um severo dilúvio
tanta desgraça neste pedaço de sítio
os pobres são tão pobres que nem dinheiro têm para esperança
são estas as nossas virtudes, aguentar uma vida destas?
não há motivação para um esforço que melhore o futuro
estou capaz de morrer, custa muito esta realidade
é incansável saber que não se pode fugir a tal destino
não devia nunca uma criança de lacrimejar
mas nem os olhos têm lágrimas de momento, estão secos
parem a fome deste mundo, afinal é só um, mas é de todos
não é de alguém!
cada vez mais sei que nunca haverá um equilíbrio
os gordos cada vez mais gordos e
os mortos de fome sempre na corda bamba da própria vida
por tudo isto prefiro continuar a embriagar-me o dia inteiro
até que uma qualquer maldição se apaixone por mim e
me leve de núpcias ao que o vulgo costuma chamar de inferno
e eu de paraíso, afinal nada pior que isto pode existir
nem no inferno uma criança pode sentir tanto sofrimento
por uma vida sorteada, uma vida que não escolheu
a fome é verdadeira e mata sem piedade
não escolhe dos quais quer levar, mas pode escolher as caras
por entre os que não têm força para dela fugir
ó país negro, o que contigo fizeram?!
te mataram sem pudor e só te deixaram mágoa e terror