24 de julho de 2006

negras noites

quer gélidas ou cálidas sejam as noites
são por mim vividas sempre da mesma forma
dias e dias, mês após mês,
fazendo aniversários sem velas cantadas,
ano após ano, sem ritmo dissemelhante
negras, pálidas, mal iluminadas de vida
seja qual for o tema que a noite propicie
não se denota diferença, pelo menos aos meus olhos
que mal contemplam pós sol posto
percorro, de vidro aberto e rádio apagado,
as longas ruas desta cidade
respirando nada mais que cigarros e suor
de olhos cansados de quem não sabe dormir
engato uma puta da travessa com que me cruzo
a quem bem pago pela companhia que me escasseia
compro não só uma viagem, mas também o seu silêncio
para poder escutar nada mais que a minha mente
os meus pensamentos, pouco translúcidos
como a água suja de uma cheia de inverno
perco horas cismado a magicar o porquê da minha fuga
da vida, do passado, das pessoas
a dor do desgosto que me atormenta
ó viagens longas nos ponteiros mas breves nas imagens
que sem fim se repetem, constantemente repetindo
o mesmo filme em câmara lenta
fujo de quê? de quem? porquê?
que demónio me atormenta e não me deixa em paz uma noite!?
um destes dias ponho um ponto final aos remorsos
e pinto de piedade o corpo de tanta amargura