2 de março de 2006

coisas


cão que é cão arrasta velhos ossos pra sua casota
gato que se preze embolsa o alegre novelo até ao seu canto
formiga algo caprichada carrega nas costas apetrechos vários
Homem que se enobrece de ser homem não difere de outrem
todos nós andamos uma vida inteira a evacuar o resto do mundo
para dentro do nosso lar, das nossas paredes e muros
recheamos a nossa casa de múltiplas futilidades
que nos aparecem constantemente no dia-a-dia
o Homem tão facilmente se liberta de um objecto
como de repente morre de amores por cem semelhantes
tem a característica comum de se apaixonar
por todo e qualquer corpo inerte de que se chega perto
produtos possíveis mas que na realidade
não se transformam em nada de novo
não deixam de se chamar matérias-primas
não parem qualquer novo filho ou filha
na verdade são meramente coisas sem importância
mas às quais damos um valor a maior parte das vezes sentimental
coisas! aí está! talvez a melhor descrição possível...
coisas de que não nos conseguimos abrir mão
não servem para mais do que apanhar pó e ocupar terreno
talvez um dia deixemos de nos agarrar tanto a objectos
e nos agarremos mais a sentimentos e a verdades
até lá continuaremos a encher as nossas vidas de tralha