19 de fevereiro de 2006

velas de sol


banhava-me pensativo num sol de domingo
escutava o barulho dos caules dançantes no meu jardim
tentava perceber de onde nascia o vento morno que
me alimentava a mesa de almoço
mesa firmemente encalhada entre as pedras da calçada exterior
onde os cavalos costumavam ser escovados
emprestada gentilmente pelo cozinheiro africano
sobre a velha toalha de linho antes branca
postos com carinho e até alguma cautela
se encontravam vários pares de amantes
cheios de melgas e irritantes mosquinhas
enamorando o cheiro adocicado da comida africana
dois pratos rasos, dois garfos, duas facas,
dois copos, guardanapos, até mesmo duas velas
assassinadas pela brisa que insistia em fazer companhia
produzindo no ar um aroma de defunto
excepto as duas pessoas necessárias para se olharem
para formarem um almoço romântico
apenas eu, solitário
na esperança dissimulada de te ver chegar
não atento ao tempo demais passado
desejando ser um sereno domesticado
que te perdoasse sem rancores
por me deixares obsoleto
em tão belo ínicio de tarde