12 de fevereiro de 2006

desprevenidamente perdido


fazia um frio de gelar a alma nessa manhã
uma entre tantas outras
procurei preocupado em todo o redor
e vi-te nascer por detrás de uma união de paredes
linda e orgulhosa, tão bem caracterizada
respirei de alivío e apesar de nem te conhecer
dei descanso à minha veia conspiradora
como sempre paraste para o jornal e o café
e para não quebrar as regras do jogo
continuei escondido na minha mesa, encoberto pelas
ásperas folhas do diário mal cheiroso que sempre me acompanha
fico tão excitado com estes 5 minutos matinais de consumo
que às vezes nem reparo que as linhas estão de pernas para o ar
penso, desde há cinco anos que nos cruzamos na frescura de um parto matinal,
em te falar!
mas a cada dia que passa morre uma parte da minha coragem
só de lembrar até as mãos vibram de forma diferente
dou por mim a olhar de cabiz baixo
ao aperceber-me verifico que já é tarde
já fugiste da nossa curta-metragem nunca filmada
e volto para mais um inferno que é não te ver até ao dia seguinte
está decidido! não passará de amanhã! falar-te-ei sem medos,
sem preconceitos
dir-te-ei que te amo desde que te vi!

hoje chove...
como se o céu chorasse sem vergonha
passa a hora habitual e não te vejo
espero mais uns minutos e a tua presença não é assinalada
um pouco reticente dirijo-me a um velhote que nada sabe e nada viu,
só quer saber do seu bagaço rançoso
num acto de desespero e frustração falto ao emprego
volto a casa para me afogar nos lençóis
e para tristeza, de morte, minha
dou contigo umas dúzias de metros avante
dormindo sossegada
sempre sem perderes o brilho que te sorri
envolta em sangue que gota a gota desiste de ti
e foge covarde de uma vida
por detrás dos teus cabelos de mel...