31 de março de 2008

rua 39


Corria junto com o vento, pelas ruas da amargura, já o dia tinha despistado a cor.
Perdido no meio de nenhures, senti que era um desconhecido naquele lugar, na rua 39…
Na altura não percebi bem o porquê daquele nome.
Perguntando-me várias vezes da razão de ali estar, a resposta era sempre a mesma. Fugir aos sentidos! Fugir de ti e finalmente fugir de nós…
Mas onde estava eu? Não via ninguém, só se ouvia a explosão do mar nas rochas ali ao pé. Em que espécie de deserto podia eu estar, sem sequer me ter apercebido de ter entrado?!
Idas e voltas, perguntas sem respostas. Até o eco insistia em morrer à nascença.
E aquele número tão estranho, que não me saía da cabeça.
Quando me apercebo encontro a sair do escuro, aquilo que me pareceu um coração. A sua forma definia-se melhor à medida que nos íamos aproximando. Tive a certeza, era um coração! Impossível? Neste momento, já tudo me parecia possível…
A primeira reacção foi viajar dali para fora, mas algo me fez duvidar da minha própria sanidade mental e decidi ficar, conversar, apurar verdades e acima de tudo saber o meu paradeiro.
Aquele coração estava claramente afectado com alguma coisa. Notava-se um batimento anormal, sereno demais para um coração.
Enfrentando-o com o desejo de saber os “porquês”, ouvi as seguintes palavras:

“Estás perdido, não estás? Sem rumo? Queres saber quem sou? Queres saber porque estás sozinho?
Estás dentro de ti mesmo! Estás perto do teu próprio coração, estás perto de mim.
Estás sozinho, pois só tu aqui podes vir. É uma gruta onde só o teu brilho ilumina o caminho.
Chamei-te aqui, porque em breve deixarei de te sentir. Estou a morrer!
Porquê?
Porque são desgostos demasiados que tenho sofrido. Apaixonas-te e abandonas-me, abandonas-me e apaixonas-te.
São já quase 4 dezenas de vezes que foges aos teus sentimentos e quem se ressente sou eu.
Pois estou fraco. Não irei aguentar mais esta mágoa, desisto de ti como tens desistido de mim… Nunca queres saber de mim e portanto, deixarei de te ser útil.”

Acordo em sobressalto.
Um sonho? Pesadelo?
Parecia tão real…