8 de novembro de 2005

raiados


o vento lá fora é tão violento
que acordo em sobressalto
abro de imediato a persiana, arreliado
para ralhar, bruscamente, com o nariz impinado
observei um temporal de temperamento agreste
de olhos esbugalhados, negros na sua envolvência
sobrancelhas carregadas, unidas de uma ponta a outra
sua testa era de tal forma frisada, de tal forma ondulada
que qualquer um que lhe olhasse directamente nos olhos
era automaticamente catapultado em todas as direcções
rodopiando pelo meio, somado a um desmedido conjunto
de outros elos menos fortes, de seres tão leves de tão puros
que facilmente eram arrancados das suas vidas
para subirem até aos grandes castelos cinzentos,
mansão do dito monstrengo
onde tais malditos, com um segundo apenas
eram desperdiçados da realidade que conheciam
sendo transformados em relâmpagos com maior ou menor energia
e devolvidos à terra
local onde todos eles voltaram a nascer
como histórias contadas, em figuras pintadas,
nas rochas do nosso mundo